SEXUALIDADE/SENSUALIDADE NO ENVELHECER. Parte I

Por Dr. Mauro Montaury.

Sexualidade no envelhecer deve ser analisada como um processo que ultrapassa o cotidiano normal. Faz parte de experiência na vida que através da vivência individual acrescenta sentido a ela.

A sexualidade compreende mecanismos complexos que vão desde o simples processo de diferenciação sexual, função gonadal, órgãos genitais até processos complexos envolvendo instinto sexual, função orgástica, busca do prazer e todas as emoções neste processo.

Quando um intenso desejo sexual nos mobiliza, ele o faz no organismo inteiro. Nosso coração acelera, altera o ritmo respiratório, desencadeia liberações hormonais e gonadais e a finalidade ultima é nos satisfazer, então o instinto sexual é liberado... O prazer mais intenso tem como finalidade satisfazer o desejo mais intenso.

Viver só para realizar ato sexual, sem desejo, não dá prazer. É puro genitalismo. Aqui entra o uso desenfreado do comprimido azul... Existe cada vez mais a constante preocupação no uso de técnicas cuja finalidade é manter a ereção e a obtenção do orgasmo. O processo obsessivo do orgasmo prejudica a obtenção do prazer. A pessoa na terceira idade é mais livre de preconceitos e tabus, não precisa se preocupar com a reprodução, como função biológica, podendo vivenciar o prazer.

O objetivo no processo da sexualidade deve não só ser o prazer, mas sim ajudar a desenvolver em si uma excelente sensualidade.

Devemos despertar a sensibilidade no ser humano que galgou tempo na sua vida. A sensualidade é a sensibilidade global aos estímulos de prazer, não só genital. Lembrar que a sexualidade nesta face se troca quantidade por qualidade e demora mais atingir a excitação, assim como demora mais para desaparecê-la.  

 Sensualidade é sentir prazer pelo dia que começa quando os primeiros raios de sol entram no quarto, o prazer do cheiro de pão caseiro que vem da cozinha, a água, o banho, a brisa da tarde, as carícias, os beijos da mulher amada. A pessoa que desenvolveu o ser sensual no seu corpo é todo receptivo ao contato corporal.

O ato sexual não pode ser reduzido à exercitação da sensibilidade genital. Todas as partes do nosso corpo são sensuais. Precisamos aprender a usufruir dos prazeres cotidianos. Precisamos nos libertar da avidez, da posse e da culpa, que interferem no medo da impotência e que dificultam o orgasmo.

O idoso necessita reforçar sua própria identidade, aprender os caminhos para desenvolver seu prazer e o prazer pela Vida. Ele precisa se libertar da idéia do corpo associado à dor, doença e sofrimento. O prazer não é sinônimo de superficialidade, frivolidade, materialismo, mas sim a percepção do ser humano sensível,atingindo a unidade deste ser.

É necessário sentir todas as manifestações ligadas à arte, musica, dança, etc. O ato de viver, em si mesmo é maravilhoso. O corpo não é escravo do espírito e sim o integrador de sua alma. 

A humanidade, e mais intensamente os ocidentais, sempre correram atrás da fonte da juventude, mas os Taoístas sempre souberam que ela fica dentro do nosso quarto. Fazer sexo regularmente aumenta os níveis de testosterona no organismo de homens e mulheres, melhorando o raciocínio e funcionando como antidepressivo.

O orgasmo aumenta os níveis de ocitocina e feniletilamina, hormônio semelhante a anfetamina e chamado molécula do amor. A atividade física, mesmo que por um espaço de tempo curto produz importantes benefícios aeróbicos para o corpo e o sistema imunológico.

Mulheres sobreviventes de câncer de mama que alcançavam o orgasmo por meio da relação sexual ou por masturbação se recuperavam mais rapidamente que outras que não tinham orgasmo.

Orgasmo independe de idade.

Num estudo de 918 homens entre 45 a 59 anos, aqueles que tinham orgasmos freqüentes, duas vezes ou mais por semana, apresentavam 50% menos de mortalidade dos que mencionaram orgasmos pouco freqüente, menos de um por mês. O índice de mortalidade mais baixo vale para todas as causas, inclusive doenças coronarianas agudas são as que mais matam nos Estados Unidos.

É preciso se libertar dos preconceitos ligados a terceira idade em relação à libido sexual, sentimentos e emoções. Existe um envelhecimento normal, que vários povos longevos se beneficiam deste processo e outros povos com doenças da civilização moderna são prejudicados. Podemos minimizar e estimular sua parte curativa, ativar ou tentar prevenir o processo aterosclerótico na doença crônica degenerativa.

O ser humano que conseguiu manter uma vida saudável e longe dos vícios prejudiciais para a saúde como: drogas, cigarro, álcool; ou maus hábitos alimentares como: carnes, frituras, sal, açúcar; seguiram uma dieta balanceada praticando atividades físicas orientadas regularmente   dispõem de contribuições importantes para possuir uma saúde sexual boa.

Devemos realizar exames clínicos e laboratoriais periódicos que possibilitem um diagnóstico precoce de doenças que interferem com a área sexual, prevenindo contra a obesidade, disfunções hormonais, dislipidemias (alteração de colesterol e triglicerídeos), hipertensão, diabetes e arteriosclerose. Existem casos bem indicados e particulares que necessitam de reposição hormonal masculina e feminina.

É importante não se deixar atingir pela Onda Hedonista dos adoradores de corpos estéticos divulgados na mídia global que tanto influenciam as pessoas. Lembrar da idade é um processo de auto-conscientização e a maior dela é a preservação da saúde e o cultivo de hábitos saudáveis de vida.

Não podemos deixar cair a sua auto-estima e nem negar os seus desejos, sua sensibilidade, sua sensualidade e sua sexualidade.

Autor: Mauro Montaury de Souza. 

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